
#AmoMeuCabelo: a história da mãe e filha que, juntas, aprenderam a amar seus crespos
A mamãe Stephanie Milena e sua filha Anna Vitória, de Poços de Caldas (MG), fortalecem seus laços fazendo diferentes penteados que são compartilhados em ensaios para o Instagram. Cada vez mais, elas retomam suas raízes e celebram, num trabalho 100% em dupla, sua beleza natural. Conheça a história dessa família!
“A relação da mulher negra com o cabelo é difícil desde a infância. Na escola, eu, Stephanie, escutava as mais diversas piadas maldosas dos colegas: quando estava com os fios trançados, me chamavam de Medusa – e, quando eu cruzava o corredor, se fingiam de estátua. Alguns familiares, em rodas de conversa, também faziam comparações entre quem tinha cabelo “bom” e “ruim”. Apesar de sempre ter gostado do meu cabelo natural, tudo isso influenciava a minha opinião sobre ele. Aos nove anos, coloquei na minha cabeça que precisava alisar os fios para ser aceita pelas outras pessoas.
Minha mãe, que sempre alisou o cabelo, queria que eu conseguisse me aceitar e fosse quem eu quisesse, e me apoiou quando pedi para começar a fazer esse tipo de procedimento. Por muitos anos, usei vários produtos com química e chapinha, que queimavam minha pele e meu cabelo. Mas o nascimento da minha filha e o laço que criei com ela trouxeram lições valiosas que mudaram a forma de enxergar nossa beleza.
Exemplo vem de berço
Quando descobri que estava grávida de Anna Vitória, aos 18 anos, passei por uma transformação a ponto de me perguntar: por que essa relação com meu cabelo (e, consequentemente, a da minha filha) não pode ser diferente? Eu, que sempre alisei para ficar igual às outras meninas, queria que ela tivesse orgulho de suas raízes. Nosso cabelo é uma coroa, afinal. Mas como daria o exemplo pra ela se eu mesma não me aceitava?
No começo, não cheguei a cortar o cabelo, mas enrolava as pontas lisas, usava cremes para ativar os cachos. Quando ela nasceu, eu já estava com o cabelo crespo e não queria mais submeter meus fios ao alisamento. Nessa época, sofri um leve julgamento da minha mãe por voltar aos cabelos naturais – mas, depois que ela me viu feliz, até ela passou a ter vontade de assumir os crespos. Essa minha atitude também acabou inspirando uma tia minha e as meninas que moram no bairro.
Tal mãe, tal filha
Em um mundo tão cruel em relação à aparência, o papel dos pais é exaltar a beleza e a inteligência da criança. Quando a Anna nasceu, minha missão passou a ser essa: ensiná-la a amar a si mesma.
E uma das ferramentas que ajudou a explorarmos mais nossa beleza natural e aprofundarmos nossos laços foi o Instagram. Sempre gostei de sair na rua com diferentes penteados e estilos de cabelo e, meus amigos, ao perceberem essa aptidão, me incentivaram a criar um perfil na rede social para ensinar minhas seguidoras a fazerem penteados e estilizarem seus crespos.
Mas, além desses tutoriais, com a criação do meu perfil (@tefinha.a), comecei a fazer ensaios fotográficos junto com a minha filha. Nosso primeiro foi quando ela tinha quatro meses. Saímos até num jornal local! Hoje ela tem três anos e já compartilhamos várias sessões de fotos: para o Dia das Mães, para a Páscoa… Nelas, costumamos aparecer com penteados que combinam, que conectam mãe e filha.
Sempre procuro manter nossos cabelos iguais. Quando a Anna percebe isso, ela já logo fala: “Olha, o cabelo da mamãe é igual ao meu!”. É muito recompensador ouvir isso. Nesses momentos, penso que deveria ter largado o alisamento há muito tempo, se soubesse que faria tão bem pra mim.
O último ensaio que viralizou foi um em que eu e Anna mostramos nossos cabelos black power, e ela segurava uma boneca com cabelos crespos. Minha filha adora as câmeras! Ontem mesmo ela veio me perguntar: “Mamãe, a gente vai tirar foto hoje?”.

Recentemente, com o sucesso de nossas fotos, decidi criar um perfil para a Anna (@annavitoria980), administrado por mim, em que também publico fotos dela e as nossas. Por mais que seja uma rede social, quando sinto que posso tocar outras pessoas com histórias de nossos cabelos, me sinto em casa. Esse se tornou meu trabalho, mas é mais do que isso: é um momento para também ensinar coisas pra minha família.
Penteado de mãe e filha: conexão com as raízes
Minha bisavó sempre trançou os meus cabelos, e isso me inspirou bastante a começar a fazer o mesmo na Anna, além de criar outros penteados. Faço vários tipos de trança nela: raiz, nagô e box braids são alguns exemplos. Ela também gosta quando faço afro puff, que é aquele penteado preso com bastante volume no alto da cabeça.
Quando a Anna vai pra creche, ela adora mostrar seus diferentes looks para as amigas. “Olha o que a minha mamãe fez no meu cabelo!”, ela fala, toda contente. “Meu cabelo é lindo!”, completa a pequena.

Aprendemos muitas coisas juntas quando compartilhamos momentos como esse. Fazer penteados nela é uma maneira de passar mais tempo com minha filha e, à medida que ela vai gostando de tudo isso, fortalecemos nossa relação. Enquanto cuidamos de nossos cabelos, conto histórias e, automaticamente, começo até a perceber coisas que não via antes, sobre nossa ancestralidade.
A Anna ainda é muito pequena, mas quando ela crescer quero explicar tudo pra ela. Contar que existe uma história por trás de cada penteado – como as tranças, por exemplo, que tiveram um papel importante durante a escravidão. Vou ensinar sobre nossos antepassados e o que as mulheres negras passaram até chegar ao que somos hoje, para nos aceitarmos melhor do jeito que somos.
A importância da representatividade
Faço questão de trazer pra vida da Anna pessoas que são iguais a ela, para que crie referências. Sempre mostro fotos de influenciadoras com cabelos crespos, por exemplo. Coloco ela para assistir desenhos que mostram a diversidade: é o caso de “Doutora Brinquedos”, que conta a história de uma garotinha negra que quer ser médica quando crescer.
Também a presenteio com bonecas negras. Ela adora, faz vários penteados nelas. A Anna consegue se enxergar ali, vê a sua beleza representada, porque as duas são iguaizinhas. Minha filha também gosta de princesas com os cabelos lisos, mas sempre ensino que é importante que ela também goste das crespas. Nossa identidade é a nossa resistência, o modo de nos posicionarmos no mundo.

Além disso, compro livros que quero ler pra ela mais pra frente. Eu mesma nunca tive o hábito de ler obras de autoras negras, e passei a reparar nisso, quero ter mais contato. Tudo isso une muito eu e minha filha.
E, mais do que isso, tudo o que vou fazer nela, como os penteados, faço igual em mim antes. Procuro usar minha figura materna como referência, e aí ela passa a gostar bastante. Além de ser uma libertação pessoal pra mim, consigo incentivá-la a se aceitar do jeitinho que ela é. Porque precisa partir dos pais o exemplo para ensinarmos nossos filhos.
Apoio emocional
Comentários maldosos sempre existirão, e crio a Anna para fortalecê-la e permitir que se blinde contra tudo isso. Nunca fiquei sabendo de nenhum episódio que tenha acontecido com ela, sempre pergunto, mas nunca me contou nada, talvez por ainda ser muito pequena. Mas já percebi que na creche pedem para que ela sempre vá com os cabelos presos, enquanto as meninas lisas podem usá-los soltos.
Por isso, ensino ela a ser forte desde pequena, para que, quando eu não estiver por perto, ela esteja pronta para se defender e lidar com os próprios sentimentos. Falo muito em casa que é importante criar a consciência de que sempre ouviremos certos comentários, mas que isso vai passar. Daí a importância da representatividade, para minimizar a insegurança das crianças.

Não quero repetir com minha filha o que vivi com alguns familiares que faziam comentários preconceituosos na minha infância e adolescência. Hoje entendo que eles não tinham acesso às informações que temos hoje e que eles também traziam consigo uma bagagem dolorosa do passado. Mas não passaria isso pra Anna. Pra ela, digo que cada um tem o seu tipo de cabelo. Se quiser alisar um dia, tudo bem. Mas mostro que ela pode aceitar seus cabelos naturais como são porque ela será muito bonita de qualquer forma.
E, se disserem o contrário, isso tem que sair por um ouvido e entrar pelo outro. No começo, você vai se sentir insegura, mas depois vai perceber que está mais forte e empoderada ao aceitar seus cabelos.
Também vivo falando pra Anna o quanto a amo e mostro que, além de sua beleza, ela é muito inteligente. Deixo claro que estamos uma pela outra, sempre juntas. Precisa ter todo esse incentivo porque, à medida que as crianças passam a valorizar seus fios naturais e ajudamos a formar essa rede de apoio, conseguimos mudar o mundo aos poucos.
E o resultado desse jeito de criá-la é que, hoje, percebo que minha filha é totalmente diferente de mim na infância. Ela se ama. Tudo o que não consegui ter quando era criança, como a autoaceitação, ela já está conseguindo desenvolver. A Anna tem tudo para ser uma mulher muito empoderada!”.
*Crédito da foto de destaque: Reprodução | Instagram @tefinha.a. Clique de @leofelipefotografia.
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