#AmoMeuCabelo: black power também é penteado de bailarina
Grécia Catarina Santos, de 25 anos, é a primeira integrante do Balé da Cidade de São Paulo a se apresentar usando black power. Mas o caminho que percorreu até subir aos palcos assim não foi fácil
“Eu tinha 13 anos quando comecei a dançar. Nessa época, eu usava meu cabelo, que é naturalmente crespo, liso. Nunca pensei que um dia usaria black power como penteado de bailarina.
Eu fui ensinada desde criança que o bonito era ter o cabelo esticado. No meu dia a dia, eu não via ninguém de cabelo crespo e até cacheado era difícil de achar.
Mesmo na minha família, em que as mulheres são crespas, ninguém deixava os fios ao natural. Minha mãe me dizia que na época dela não era permitido ter cabelo como o nosso, que era como se a mulher não estivesse arrumada. Então, ela cresceu com essa trava.
Desde pequena eu sentia vontade de usar meu cabelo solto, mas isso era um sofrimento para minha mãe, que não sabia lidar muito bem com a situação. Ela começou a aplicar produtos para relaxar e deixar meus fios menos crespos. Fui crescendo assim, alisando, fazendo escova e progressiva e sempre ouvi que meu cabelo era difícil de pentear.
Aos 18 anos, por causa da dança, a questão foi ficando maior para mim. Eu ia para a aula de jazz e suava, então a escova estragava. Daí, eu tinha que refazer o procedimento sempre. Além disso, quando deixava o cabelo preso durante a aula, ele ficava todo marcado depois…
Transição: o início da libertação
A minha transformação começou após uma novela. Em “Viver a Vida”, de 2009, a Taís Araújo vivia Helena, a personagem principal, e usava um longo aplique, todo cacheado e muito bonito. Eu fiquei encantada. Decidi que queria ver como o meu próprio cabelo ficaria se crescesse naturalmente.
A mudança, no entanto, teve de acontecer de dentro para fora. O meu maior medo era de que meu cabelo ficasse feio, porque eu não tinha a menor ideia de como ele era na realidade. Por isso, precisei me convencer: se eu não gostasse, daria um jeito. Mas foi um processo difícil que levou cerca de dois anos.
Nessa época ele já estava horrível, com os fios quebradiços por conta de tantos procedimentos. Fui ao salão e cortei bem curtinho. Ainda assim, ele permaneceu alisado devido à química de tantos anos. Esperei crescer e cortei novamente: foi quando comecei a ver meu cabelo do jeito que ele realmente é.
Havia uns três dedos de cabelo natural, cacheadinhos. Eu amei! Todo mundo gostou também e fui estimulada a deixá-lo maior. A partir disso, comecei a modificar a minha imagem na dança.
Cabelo de bailarina
Apesar de ser a única negra na escola, com o cabelo alisado eu conseguia imitar os penteados das outras meninas. Na nova forma, não. Eu era única de black power. A aceitação que eu tive ali me ajudou muito. A diretora elogiou e a minha professora também.
Ainda assim, usar um cabelo como o meu ao natural era algo novo nesse universo, eu não tinha nenhuma referência de bailarina para me inspirar.
Black power é penteado de bailarina, sim
Hoje, sou a única mulher negra no Balé da Cidade de São Paulo e danço com meu black power solto. No fim de quase todo espetáculo alguém vem falar sobre isso comigo.
Recebo muitos comentários de meninas com o cabelo como o meu que dizem que não sabiam que era possível dançar assim. Eu sinto que elas ficam agradecidas pela representatividade que veem no palco e eu fico megafeliz com o retorno.
No ano passado eu fiz um post no meu Instagram mostrando o antes e depois do meu cabelo black power. Escrevi sobre como gosto da minha imagem atual e recebi um monte de comentários positivos. Sinto que existe um avanço, mas o assunto ainda é pouco discutido.
Muitas pessoas não sabem que existe gente que assume sua personalidade através dos fios naturais – e que são reconhecidas como bons profissionais no ambiente de trabalho.
Lembra-se das mulheres da minha família que sempre alisaram? Depois que assumi meu cabelo, muitas fizeram o mesmo. Hoje em dia, até minha mãe passa períodos com o cabelo natural.
A minha irmã mais nova, de 14 anos, tem o maior orgulho do cabelo dela. Para mim é uma alegria sem tamanho, porque eu sei o que é crescer ouvindo que o seu cabelo é ruim. Até no meu bairro, lá em Belo Horizonte, houve uma mudança. Vi meninas que se inspiraram e deixaram o cabelo crescer do jeito que é. A mudança começa dentro da gente e é linda!
Rotina de cuidados
Não costumo ir tanto ao salão, só quando preciso cortar ou pintar. Lavo meu cabelo alternadamente usando shampoo e condicionador co-wash. Como meu cabelo é crespo e não tem muita oleosidade, passo sempre óleo nas pontas.
Também uso creme ou gel para cabelos cacheados quando não lavo e preciso finalizar as pontas. Antes de dormir, massageio o couro cabeludo para ajudar na oleosidade.
Os produtos preferidos de ATH para crespos
Sabemos que os cabelos crespos têm maior dificuldade em se manter hidratados da raiz às pontas. Mas isso não quer dizer que você não pode dar uma mãozinha!
Se você quer aderir ao co-wash, a técnica que dispensa o uso do shampoo na hora de lavar os cabelos, a gente tem sugestões! O Condicionador Co-Wash Love Beauty and Planet, da linha Curls Intensify, tem um perfume irresistível e faz parte da linha de produtos veganos que acabou de chegar ao Brasil. O famoso Co-Wash Bed Head Calma Sutra limpa, hidrata e desembaraça e tira seus fios da mesmice.
Para finalizar, use e abuse dos cremes de pentear. O Creme de Pentear TRESemmé Crespos é ideal para quem quer hidratar e fortalecer. O Creme de Pentear Dove Day2 trata, redefine e nutre os fios nos dias seguintes à lavagem sem ter que molhar.