
Rosa Luz: a voz e imagem de uma mulher negra trans
Youtuber, rapper e artista negra e trans fala sobre aceitação e preconceito.
Ser mulher negra, em um país historicamente racista e machista, é uma luta diária contra toda forma de preconceito e opressão. Agora imagine a que potência isso é elevado quando se trata de uma mulher negra transgênera – ainda mais quando falamos do país que mais mata transsexuais no mundo. Dessa batalha Rosa Luz entende bem. Afinal, ela vivencia isso, diariamente, na própria pele.

Negra, rapper, youtuber e artista, com apenas 23 anos Rosa Luz já viveu de tudo um muito. Nascida e criada na periferia do Distrito Federal, ela carrega na sua voz e imagem a resistência, que passou por um longo caminho da identificação e aceitação enquanto mulher trans. Seu cabelo cacheado até o ombro faz parte desta história.
Rosa Luz: sobre carregar a militância em si própria
A artista conta que seu processo de auto-aceitação foi fluido, com altos e baixos. “Tudo aconteceu enquanto fui entendendo quem eu era e como a ideia binarista de gênero é algo tão colonizador quanto o racismo institucionalizado neste país”, afirma.

Ao não se encontrar dentro de nenhum dos padrões, rótulos ou nomenclaturas definidas atualmente e usadas com frequência na sociedade, ela foi se definindo. O vocabulário reflete o inconformismo com tudo é pensado do ponto de vista heterossexual e em que as pessoas sejam determinadas pelo gênero biológico com que nasceram.
“Não é fácil viver em uma sociedade comandada por um padrão branco e cis-normativo, mas tenho exercitado a descolonização da minha existência há anos. Então, a cada dia que passa, me sinto mais confortável com a minha imagem”, diz.

Cabelos com identidade e sem preconceito
Rosa Luz conta que sua jornada de aceitação que, segundo ela, chega a ser uma questão bem ancestral, envolve também sua relação com o próprio cabelo e como a sociedade vê os fios cacheados e crespos.
Ela foi careca na infância, alisada na adolescência, com 16 tornou a ser careca de novo e, de lá pra cá, fez várias tranças. Agora, tem mantido o cabelo mais natural – e está amando.
“Frequentemente, o cabelo crespo é associado à sujeira e criminalidade, assim como a minha identidade travesti e o meu corpo não-binário. Em algumas bolhas desconstruídas, as cacheadas e crespas são vistas como deusas, mas, onde vivo, percebo que a maioria das mulheres ainda é alisada e, de certa forma, condicionada a esse padrão eurocêntrico e branco de beleza”, compara.

Transição e empoderamento
Por tudo isso, Rosa diz que aceitar a textura do cabelo cacheado não foi fácil e que foi preciso passar por um processo de empoderamento.
Ela diz que o isso com certeza influenciou positivamente seu processo de autoconhecimento e, de certa forma, representa parte de sua militância.
Assim, diz ela, pôde perceber que sua identidade não se encaixava no padrão “homem” ou “mulher” que é imposto hoje na sociedade.

Como Rosa Luz se enxerga hoje?
“Eu sou cacheada e amo meu cabelo. Mas ele também me faz perceber que a sociedade é racista quando entro em um restaurante, por exemplo, e a garçonete implica apenas com meu cabelo solto”.

Perguntamos a Rosa que mensagem ela gostaria de deixar ao fim dessa matéria e seu recado é: “Sigam pessoas trans, travestis, transvestigeneres, não-bineries, intersexuais, queer, corpos marginais e dissidentes. #prosperidadetravesti”.
E se você quiser seguir Rosa, o Instagram dela é @rosadobarraco. Por um mundo mais plural e que saiba acolher todas as formas de diversidade!