Se meu cabelo falasse: autoestima no tratamento de câncer | All Things Hair BR
vetor com mulheres usando símbolo de conscientização do câncer de mama no outubro rosa

Se meu cabelo falasse: a relação das mulheres e seu cabelo ao enfrentar o câncer de mama

Saiba a visão de especialistas sobre a autoestima da mulher com relação aos seus cabelos e o depoimento de quem passou por essa fase na vida.

Receber o diagnóstico de um câncer não é fácil. E, além disso, ainda temos questões emocionais e de autoestima para lidar, já que a doença muitas vezes vem acompanhada também de mudanças físicas. E muitas vezes essas mudanças estão relacionadas com uma fase difícil, que é a queda de cabelo durante o tratamento.

Mas como lidar com essas diferentes sensações em um momento tão delicado da vida? Como não se frustrar e se sabotar em um processo que já é difícil por si só?

Com o objetivo de promover informação sobre o assunto e mostrar para tantas mulheres a importância de se amar e reconhecer a batalha, conversamos com especialistas e mulheres que tiveram o diagnóstico e compartilharam com a gente lindas histórias de superação e incentivo ao cuidado da autoestima.

Câncer de mama e a mudança no cabelo das mulheres 

Mesmo que a cura do câncer de mama seja de até 95% com um diagnóstico precoce, receber a notícia de que está com a doença nunca será fácil, pois não é só sobre se curar, mas também sobre passar por todo o processo.

E quando falamos sobre a possibilidade de fazer o tratamento por meio de quimioterapia, que tem efeitos colaterais diretos relacionados a alopecia, o susto é maior ainda, pois o cabelo não é só mais uma parte do corpo da mulher, é parte da sua autoestima.

A Dra. Samira Juliana Machado, Cirurgiã Oncologista e Mastologista, nos conta que o tratamento do câncer, de forma geral, pode afetar o aspecto do fio do cabelo, produzindo alterações relacionadas a textura e coloração diretamente na raiz, fazendo com o que o crescimento do cabelo seja diferente.

É comum encontrar mulheres que, depois do câncer de mama, tem seus fios mais encaracolados ou, então, os cabelos nascendo brancos ou grisalhos. Também é normal perceber uma mudança na quantidade dos cabelos, que podem ficar mais finos e com menos volume.

“A alopecia é uma das principais preocupações das pacientes, o que as fazem temer muito a indicação da quimioterapia. Os cabelos, para grande parte das mulheres, é símbolo de feminilidade, vaidade e beleza. Com isso, a queda de cabelo está fortemente associada a quebra desse símbolo, afetando a identidade e a autoimagem dessa mulher.” – Dra. Samira Juliana Machado

E o meu cabelo com o diagnóstico de câncer de mama, como fica?

Essa provavelmente é uma das primeiras perguntas que milhares de mulheres se fazem e fazem aos seus médicos quando pensam que é uma possibilidade perder os cabelos durante uma fase tão delicada para a vida.

Realmente, não há uma resposta fácil e concreta para a situação, mas existem perspectivas muito válidas sobre como será encarado esse tratamento dado a relação tão forte e importante que as mulheres têm com os seus cabelos.

Para a Psicóloga Fabíola Luciano, Especialista em Terapia Cognitiva e Comportamental, o melhor caminho é desenvolver e construir habilidades emocionais durante o tratamento.

“Não é fingir que é bom, o câncer traz um monte de adversidades que o paciente vai enfrentar. Mas aqui, a aceitação, ou seja, colocar os dois pés na realidade para trabalhar e construir a aceitação desse processo, com todas as complicações que ele traz, é importante. Inclusive, essa perda de cabelo, ela é temporária e é parte do todo. Ela é uma ponte para onde que você quer chegar, mas não é o fim, apenas o caminho.”

– Fabíola Luciano, psicóloga

“Sim, é diferente essa imagem de quem eu já fui, mas ainda é quem eu sou”

Para além de toda a dificuldade e medos que aparecem quando um diagnóstico de câncer de mama é positivo, ainda existe um trabalho que precisa ser desenvolvido por essas mulheres para que esse momento abale o mínimo possível a sua autoestima.

As preocupações aparecem, principalmente, ao se olhar no espelho e com relação aos julgamentos alheios. Para a psicóloga, é preciso trabalhar a autoaceitação global.

Ela reforça que a beleza e a autoestima vão muito além do cabelo e da parte estética, visto que já é um momento desafiador, que envolve tantas coisas, então, a ideia é conseguir ampliar o olhar e enxergar a autoestima realmente como ela é. Ou seja, entendendo todas as nossas forças e colocando muito além da relação estética e do cabelo.

Mulher com lenço na cabeça e os braços para cima em gesto de comemoração
Foto: Shutterstock

E a médica oncologista comenta que, diante da necessidade em fazer um tratamento que cause alopecia, é importante incentivar o autocuidado, o olhar carinhoso e amoroso para si mesma, e buscar valorizar outros pontos da própria beleza, usar acessórios e maquiagens que estimulem a vaidade (caso goste), e buscar uma rede de apoio de pessoas com empatia e amor.

As especialistas também compartilharam conselhos importantes durante este processo:

“Trabalhe a autocompaixão, uma prática incrível justamente para quando a autoestima falha. A autoestima está muito relacionada a resultados, a aspectos positivos, e a autocompaixão, não. Ela vem justamente no momento de dor e sofrimento. E o que fazer nesse momento? Seja sua amiga nessa trajetória, se você trouxer uma autocobrança do que você gostaria que fosse e não é a realidade, isso vai desencadear em um processo de frustração.”

– Fabíola Luciano, psicóloga

“Eu costumo dizer para as minhas pacientes: ‘O seu cabelo vai cair, e eu preciso ser sincera com você. Vai ser difícil, haverá momentos de dor e tristeza, mas também haverá momentos de fé e esperança. Vamos focar na sua cura e nessa jornada de tratamento, mas também quero te ver bem! Quero que se sinta linda, como você já é. Cuide de si, seja vaidosa, valorize seus pontos fortes e o que você mais ama em seu rosto. Experimente adereços, maquiagens e cores, e pense sempre: vou passar por essa jornada. E nós estamos juntas!’”

– Dra. Samira Juliana Machado

Quem viveu sabe, autoestima e cabelo durante o tratamento

Conversamos com duas mulheres que receberam o diagnóstico do câncer de mama, tiveram diferentes tratamentos, mas que conseguiram criar habilidades emocionais para enfrentar a doença e preservar a sua autoestima, mesmo com diversas questões em relação a mudança do seu corpo e cabelo. Veja os depoimentos:

Elenir Coutinho, 61 anos

“Olá! Sou a Elenir Coutinho, jornalista e assessora de imprensa. Vou contar minha experiência sim, já que cada um encara de diversas formas, no meu caso encarei numa boa. Quando veio o diagnóstico, já sabia que o câncer de mama era o do tipo mais agressivo, que só quimioterapia e radioterapia resolveriam. Para começar, tive médicas ótimas e sempre pedi para que esclarecessem e explicassem o máximo de tudo que iria acontecer com meu organismo, essa era minha verdadeira preocupação, meu corpo aguentar o bombardeio químico que viria pela frente.

Não era hora de pensar em ficar bonita ou feia, o câncer não nos dá esta opção, a questão é meu corpo realmente aguentar. Foram 7 meses de quimio e 25 dias de radioterapia, sem contar que não é só o cabelo que fica afetado, mas como este faz parte de seu visual tem um peso maior.

Sempre brinquei, disse que iria ficar parecida com o Gru, personagem da animação, “Meu Malvado Favorito”. Pensei: vou ficar careca, mas eles nascem novamente. Vai ficar estranho? Vai! Mas tenho que sobreviver e reforçar meu corpo. Tinha isso em meu pensamento, tanto que a primeira coisa que fiz foi cortar o cabelo bem curto, o impacto para as pessoas ao meu redor seria menor.

Fiquei mais preocupada com meus filhos, que também levaram no humor, já que fazia isso para diminuir toda a tensão que a doença trás. Não precisei raspar, eles caíram certinho e nasceram também certinho. Sempre tive o cabelo liso, quando terminei o tratamento nasceram cacheados e brancos. Como estava sem corte, fui ao cabeleireiro. Nisso, os cachos sumiram, ficaram mais lisos ainda e a cor mudou, o branco foi sumindo também, ficaram castanho e com pouquíssimos fios brancos.

Não quis peruca, não usei turbante, só usava um lenço e um chapéu para proteger o couro cabeludo. Por ter ficado bem, hoje uso o cabelo curto, é mais prático, não tenho tempo a perder, cabelo curto também nos deixa bem, é só acertar no corte.”

Foto: arquivo pessoal

Sandra Mezzaroba, 51 anos

“Recebi o meu diagnóstico de câncer de mama no começo de 2022. Quando eu fiquei sabendo que tinha câncer, além de me curar, a minha maior preocupação foi fazer quimioterapia e cair o meu cabelo. Eu sou uma pessoa muito vaidosa com os meus fios, cuido muito do meu cabelo, faço cronograma capilar, tenho apego. Para o meu alívio, após o detalhamento do meu diagnóstico, foi me indicado a cirurgia de retirada das mamas e eu não precisei passar pelos efeitos colaterais de alopecia da quimioterapia.

Mesmo curada, tomo remédio controlado de remissão da doença e senti que meu cabelo teve uma queda acentuada devido a medicação, principalmente na hora de lavar e pentear. Mas também entendo que faz parte do processo, e assim eu vou seguir.

Sempre fui muito rígida nos meus exames. Lembro que a mamografia em que apontou a suspeita de câncer, foi feita exatamente há um ano da anterior. Talvez, se eu tivesse esperado mais tempo, colocado outras coisas da minha vida em prioridade pensando que era “só mais um exame”, eu estivesse contando uma história diferente aqui. Ainda bem que estou viva, curada, em processo de remissão da doença e com uma vida muito mais saudável, com uma boa alimentação e atividades físicas fazendo parte do meu dia a dia para um futuro longo e próspero.”

Foto: arquivo pessoal

Uma vida saudável e com os exames em dia

O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres do Brasil, ficado atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Mesmo assim, estamos falando de uma doença com 95% de chances de cura caso tenha um diagnóstico precoce.

A campanha de conscientização do Câncer de Mama é de extrema importância no Brasil, principalmente porque temos um sistema público de saúde que possibilita que as mulheres façam exames e acompanhamentos anuais em suas mamas.

Faça seus exames regularmente, mantenha uma vida saudável e equilibrada. A ciência está ao nosso favor, com tecnologias e pesquisas cada vez mais avançadas no assunto, a fim de aumentar cada vez mais a porcentagem de possibilidade de cura e diminuir o sofrimento de tantas mulheres que passam por esse momento tão desafiador em suas vidas.

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