Samara Felippo: “Quero incentivar o empoderamento e a autoestima das minhas filhas”
Em uma entrevista emocionante, a atriz fala sobre como usa as diferenças para educar e empoderar as filhas. Vale a pena conferir!
Mãe de duas meninas cacheadas, a atriz Samara Felippo, 38 anos, levou um tempo para perceber que o cabelo seria uma pauta importante na vida das filhas. Depois de ouvir queixas sobre a falta de representatividade, ela não perdeu tempo e decidiu usar as diferenças como ferramentas para acompanhar e incentivar o processo de aceitação dos cachos da filha mais velha, Alícia, 8, e da mais nova, Lara, 4.
Após compartilhar um relato sobre o cabelo de Alícia no Instagram, ela recebeu um retorno muito grande do público e viu que muitas mães passam pelo mesmo desafio: cuidar dos cabelos dos filhos e mostrar que eles são bonitos exatamente como são.
Em uma entrevista exclusiva para All Things Hair, Samara Felippo fala sobre a experiência com as filhas e do desejo de abordar o assunto em um futuro canal do Youtube, além de dar dicas para mães que passam pela mesma situação. Confira!
ATH entrevista Samara Felippo
All Things Hair: Para você, que tem o cabelo liso, qual o maior desafio em ser mãe de meninas com cabelo cacheado? Quando percebeu que o cabelo seria um tópico importante na vida delas?
Samara Felippo: Nunca pensei na palavra desafio. Mas também jamais imaginei que um dia Alícia fosse se questionar em relação a isso. Até os 8 anos ela não tinha dado nenhum sinal de falta de aceitação ou insegurança. Na verdade, Alícia reclamou mais da falta de representatividade do que da aparência. Ela é segura com a aparência e está aprendendo a cuidar dos cachos. Por aqui, sempre as elogiamos: dizemos não só que são lindas, mas também espertas, inteligentes, corajosas e legais. Na primeira e única reclamação, pensei que não podia deixar isso acontecer com minha filha, pois a vida já é cruel demais para sermos cruéis conosco.
ATH: Muitas mães que passam por esse tipo de situação – e não sabem lidar com o cabelo dos filhos – veem no alisamento a solução de todos os problemas. O que a fez seguir pelo caminho inverso?
Samara Felippo: Em primeiro lugar, nosso cabelo faz parte da nossa identidade e, até onde eu puder e elas quiserem, quero ajudá-las nesse cuidado. Segundo, para incentivar o empoderamento e autoestima das minhas filhas, pois é um ato de amor com você mesma se aceitar da maneira que você é. Quero ensiná-las que não é preciso seguir o padrão para agradar a ninguém. Se você opta por amar seu cabelo, que é lindo, e se dedicar a cuidar dele, você terá cuidados extras, afinal, cabelos cacheados têm que ter indiscutivelmente cuidados extras – e é o que os torna tão especiais. Não julgo as mães que optaram por alisar: a vida já é tão corrida, muitas precisam trabalhar, dependem de outros para cuidar de seus filhos e a melhor solução que vem à cabeça, a mais “prática”, é alisar o cabelo ou mantê-lo preso.
ATH: É comum crianças com cabelos cacheados ou volumosos relatarem problemas de convivência com outros coleguinhas, principalmente na escola. As suas filhas já relataram algo do tipo? O que costuma dizer a elas nesses momentos?
Samara Felippo: Uma vez. Quando Alícia era pequena, teve um caso de uma coleguinha que disse que o cabelo dela era “feio” e isso mexeu mais comigo do que com ela. Esse tipo de maldade não atinge crianças pequenas e elas geralmente sabem se defender. Quando vão ficando mais velhas, enxergando com os próprios olhos e sentindo na pele os diversos tipos de preconceitos é que fica mais dolorido e confuso para elas. O que causa o “estranhamento” por parte de algumas crianças na escola, seja com cor de pele, cabelos, peso, ou qualquer tipo de “diferença” é a falta de representatividade. Por exemplo, em determinadas escolas, pouco se vê crianças negras, porque a maior parte da população negra é pobre. Então, elas não estarão nas escolas particulares, que, creio eu, é onde mais acontece [essa falta de representatividade].
ATH: Você já disse que pretende criar um canal no Youtube para falar sobre o assunto. O que a levou considerar essa possibilidade e que tipo de conteúdo pretende publicar?
Samara Felippo: Alícia sempre demonstrou vontade de ter um canal, por assistir a outras meninas, porque as amiguinhas tinham, por modismo. Eu nunca incentivei por medo, por não ter nada relevante para falar e por não querer expor demais. Agora que ela está com 8 anos, surgiu genuinamente um assunto que une muitas coisas relevantes e que eu sempre quis falar e ensiná-la sobre. Une o fato de ela aprender a cuidar e também dar dicas aprendendo junto. A intenção é alcançar muitas mães de cacheadas, que são as que mais me incentivam, e as próprias meninas, em um mergulho de aceitação, autoestima, divertimento, boa leitura e representatividade com filmes, desenhos, brinquedos, entrevistas com mulheres e meninas cacheadas lindas e poderosas.
ATH: O que diria para as mães que passam pela mesma situação e não sabem como lidar com o cabelo dos filhos?
Samara Felippo: Que elas não estão sozinhas! Ensinem suas filhas que elas são lindas como são, que é só questão de aprender a cuidar e fazer disso um divertimento. Mostre exemplos e faça disso uma conexão com seus filhos e, claro, ache os produtos certos.
ATH: Qual é o aprendizado que você está tirando dessa experiência com suas filhas?
Samara Felippo: Estou surpresa que esse assunto tenha tomado essa proporção. Às vezes, sinto que estou exagerando, mas quando isso veio à tona com o vídeo da Alícia, o número de mães querendo ajuda, incentivo e apoio foi tão grande que senti um chamado muito forte. Me senti muito privilegiada, mas, ao mesmo tempo, com uma responsabilidade enorme. Jamais poderei dissertar como é sofrer racismo, mas posso ensinar as minhas filhas a se defenderem e exigirem respeito. Hoje, com as redes sociais, podemos dar voz a esse grito de liberdade. Nunca é demais falarmos sobre preconceitos e empoderamento. Quando falo sobre cachos, falo de liberdade, de aceitação, em se libertar dos padrões. Li uma frase tão linda num livro delas outro dia, vou terminar assim: “Cada um tem uma cor, cada um tem um cabelo, seja como for, não existe um modelo”.