Yasmin Puri: indígena conta tradições familiares com o cabelo | All Things Hair BR
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#AmoMeuCabelo: “Quando entendemos que a natureza inteira passa por fases percebemos que fazemos parte dela”

Indígena da etnia Puri, Yasmin Puri compartilha com a gente todos os ensinamentos que aprendeu com seus familiares e antepassados. Desde o cuidado e a importância do cabelo até a nossa conexão direta com a natureza.

De uns tempos para cá, a valorização da natureza tem se tornado um assunto cada vez mais recorrente. Seja pela preservação das florestas, por adotar estilo de vida mais sustentável ou o simples prazer de estar em contato com a natureza, principalmente em um momento em que precisamos passar a maior parte do tempo em casa.

Quem tem a isso no DNA são os povos indígenas. Para eles, não há separação entre o ser humano e o meio ambiente, tudo faz parte de um mesmo sistema. Para comemorar o Dia do Índio, conversamos com Yasmin Puri, da etnia Puri, que conta qual a importância do cabelo para os indígenas, os ingredientes naturais que são usados nos cuidados e como nos conectarmos com a natureza.

A relação dos indígenas com o cabelo

“Eu vejo a importância do cabelo em várias fases da vida para os indígenas. Em algumas etnias, as meninas quando viram moças cortam a franja. Em outras elas param de cortar a franja quando chega esse momento. O corte de cabelo também é uma forma de identificar as diferentes etnias, quando você vê o povo xavante ou caiapó, você já sabe pelo cabelo.

Na minha família a gente nunca corta o cabelo no salão; quem corta é uma pessoa da família e, normalmente, uma mulher. Até hoje só a minha mãe e a minha avó cortaram o meu, e a minha avó ainda corta o da minha mãe. Outro ritual que temos é o de cortar o cabelo só na lua nova ou na lua crescente, não pode ser em outra. [Acredita-se que cortar o cabelo na lua crescente faz os fios crescerem mais fortes e na lua nova para marcar novas fases da vida].

Já tive o cabelo curto quando eu era criança. Ele era longo, mas uma menina na escola cortou. Minha mãe ficou muito chateada porque ninguém pode cortar meu cabelo, como eu contei. Então resolveu deixá-lo curto para eu conseguir cuidar melhor.

Ritual de crescimento

Depois disso o cabelo cresceu, mas tiveram algumas fases, que foram bem marcantes, em que eu cortei curto de novo para recomeçar. Ano passado, por exemplo, cortei bem curto porque perdi uma pessoa muito importante para mim. Eu e minha família estávamos em uma fase bem difícil, então jurei para mim que eu ia recomeçar, um novo ciclo. E resolvi cortar meu cabelo para que, enquanto fosse crescendo, eu também crescesse junto com ele.

indígena yasmin puri com cabelo molhado solto
Foto: reprodução | Instagram @yasmin.puri

Usei meus fios como uma régua para medir o quanto eu estava evoluindo junto com eles. Não lembro de nenhuma vez ter cortado meu cabelo só por estética, todas foram para tentar passar para outra fase”.

Ingredientes naturais para os cabelos

“A gente usa muitas coisas naturais no cabelo, como os óleos naturais de copaíba ou de mamona, principalmente, e o urucum. Também usamos os óleos no corpo. Além do óleo de copaíba, também gostamos muito de usar o de coco.

Dois ingredientes que eu gosto de passar para hidratar o cabelo são o abacate e a babosa – quem me ensinou foi a minha avó. Ela é muito vaidosa e me ensina tudo. Quando ela morava na roça, passava o urucum na pele também como protetor solar.

Também gosto muito de fazer cronograma capilar. Toda semana faço uma etapa: hidratação, nutrição ou reconstrução. Vejo muito resultado e dá aquela sensação de estar se cuidando, de fazer uma coisa para mim.

Minha mãe fala que tem que pentear o cabelo todos os dias com a mão. Ela diz que a mão é o melhor pente para o cabelo”.

A busca pelo autocuidado na natureza

“Assim como a natureza, a gente tem as nossas fases, desde quando você é uma criança até ficar uma senhora. Acho que essa evolução tem uma relação muito grande com a natureza.

Quando entendemos que a natureza inteira passa por fases – e que nem sempre elas são prazerosas -, percebemos que com a gente acontece a mesma coisa, porque fazemos parte dela. Hoje eu posso não estar me sentindo muito bem, o meu cabelo pode não estar numa fase muito boa ou então a minha pele ficou de um jeito que eu não gostei, mas, se eu tiver noção de que isso é passageiro, eu vou aprender a me conhecer e ter mais vontade de me cuidar. Tudo porque eu sei que na próxima fase eu vou estar melhor.

indígena yasmin puri segurando plantas
Foto: reprodução | Instagram @yasmin.puri

A natureza não tem relógio, não tem calendário. Assim, você entende que se também faz parte dela não precisa se cobrar tanto. Eu não preciso ficar perfeita. Se não estou me sentindo bem, vou trabalhar para eu ter uma próxima fase melhor.

Não sou tão vaidosa quanto eu queria, mas me cuido para além da estética. É aquela sensação de estar fazendo algo para mim. As mulheres da minha etnia, no geral, são bem vaidosas. A gente não costuma usar maquiagem, mas gostamos muito de nos pintar. É um momento de autocuidado também. A nossa pintura é uma mensagem para o outro e para a gente”.

A falta de representatividade indígena

“Várias vezes já me senti excluída. Sempre foi muito estranho não ver pessoas da minha cor ou da minha etnia [na mídia]. Na escola eu tinha vergonha de ser indígena.

Nasci e fui criada na favela da Mangueira e estudava em uma escola no bairro do Maracanã. De vez em quando, eu ia pra aldeia e voltava pintada, mas meus amigos me olhavam estranho. Eu tinha um pouco de vergonha porque, óbvio, eu era a única pintada na escola inteira, e às vezes até os professores achavam esquisito, ficavam com vergonha de perguntar.

indígena yasmin puri com cabelo solto e pintura corporal
Foto: reprodução | Instagram @yasmin.puri

Depois fui crescendo e me acostumei. Aí me pintava mesmo, queria que as pessoas perguntassem porque percebi que era o meu objetivo explicar e não as pessoas ficarem me olhando como se fosse um absurdo.

As pessoas não estão acostumadas com um indígena caracterizado, como quando você está pintada e vai pegar um ônibus, por exemplo. Quando veem um indígena, querem que ele ande com saia de palha, usando cocar. Meu povo nem usa cocar! Não tem como caracterizar generalizando tudo”.

Como devolver o que a gente tirou da natureza?

“De forma coletiva, demarcando terras indígenas. Individualmente, trabalhar na redução de lixo. Acho que não tem como devolver tudo o que já foi tirado, mas se a gente reduzir o impacto que geramos, talvez isso tenha um resultado muito maior lá na frente. E [também é importante] ter esse trabalho de mostrar o cuidado que a gente deve ter com a natureza, o contato com ela, não menosprezá-la.

Tem vezes que perdemos um pouco as esperanças, mas tem tanta gente que corre atrás pra mudar! Só de mudar o pensamento, você perceber que a natureza te dá coisas que são importantes, já é alguma coisa. E acredito que as pessoas estão começando a se dar conta disso”.

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