Rico Dalasam releva segredos sobre seu cabelo | All Things Hair BR

Rico Dalasam: “Os anos que fui cabeleireiro me fazem construir a imagem que eu quiser”

Ele é destaque no cenário atual do rap brasileiro.

De Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo, para o mundo. Rico Dalasam, nome artístico de Jefferson Ricardo da Silva, é um cantor, compositor e rapper brasileiro, que está ganhando destaque no cenário musical atual. O rapaz aborda em suas músicas o orgulho gay, algo nunca antes falado nesse estilo de música no Brasil. Nós de All Things Hair conversamos com o rapper, que já foi cabeleireiro e tem muitas histórias para contar. Além disso, Rico falou sobre empoderamento, aceitação e o movimento “queer rap”. Confira!

ATH entrevista Rico Dalasam

Al Things Hair: Como é o seu cabelo natural e como era a relação com ele na infância e adolescência?

Rico Dalasam: Meu cabelo natural é crespo, mas com alguns cachos apertadinhos. Durante a infância, meu cabelo repetia o esterótipo do pagodeiro: corte bem baixo. Eu só fui deixar o cabelo crescer quando eu tinha 12 anos. Depois disso, cortei poucas vezes, mas já deixei black power, fiz dreads e tranças.

ATH: Agora você está sempre mudando o cabelo, às vezes com trança, ondulado, alisado, alongado… Como é essa transformação?

Rico Dalasam: Os anos que fui cabeleireiro me fazem construir a imagem que eu quiser. Às vezes, uso apliques ou cabelo natural, com isso eu crio mil imagens. Acho que eu estou muito mais ligado em construções de imagens do que qualquer outra coisa relacionada ao cabelo. Eu quero ter um cabelo que me ajude a contar uma história naquele momento, que pode ser liso, longo, enrolado, black ou preso.

Rico Dalasam com cabelo cacheado preto
Foto: Reprodução/Instagram @ricodalasam

ATH: Quais os cuidados com o cabelo natural desde o banho até a finalização?

Rico Dalasam: Eu tenho muitos produtos de beleza em casa, tanto para a pele quanto para o cabelo. Mas eu apenas lavo o cabelo, procuro hidratar e usar óleos. Faz pouco tempo que comecei a usar o shampoo sem sal, mas não faço muitas coisas, só hidrato e mantenho ele limpo.

ATH: Você já falou que era cabeleireiro. Conta para a gente um pouco sobre essa fase!

Rico Dalasam: Aos 12 anos, eu peguei um pote de alisante da minha irmã e passei no cabelo. Ficou do jeito que eu queria. Meus amigos me perguntarem o que eu tinha feito no cabelo e eu disse que ainda tinha o produto alisante em casa. Então, levei o pote para a rua, passei nos amigos e usamos a torneira da garagem do quintal para lavar o cabelo. Depois daquele dia, nunca mais parei de mexer no cabelo das pessoas do meu bairro. Passou pouco tempo e comecei a cobrar. Com 16 anos pude fazer um curso de cabeleireiro, mas já fui sabendo algumas coisas. Terminei o curso e segui trabalhando. Com uns 18, virei assistente do cabeleireiro Max Weber. Saí dessa área com 22 anos.

Rico Dalasam com cabelo cacheado preto
Foto: Reprodução/Instagram @ricodalasam

ATH: Você costumava fazer tranças nas pessoas quando era cabeleireiro. Ainda domina essa habilidade?

Rico Dalasam: Acho que a gente não desaprende nunca, é como andar de bicicleta. Aprendi a fazer tranças, dreads, tudo que é do cabelo afro e, também, do cabelo liso. E ainda tento praticar, por isso faço em mim.

ATH: Você enxerga o cabelo como empoderamento e aceitação?

Rico Dalasam: O cabelo está aí para nós contarmos histórias. A história do negro no Brasil, neste momento, fala de um retorno à diáspora, de voltar para o ponto inicial com o cabelo crespo e afro. Eu sempre me liguei na realidade do negro norte-americano, que já é outra pegada, de usar cabelo loiro e liso, mas isso não diferencia ou questiona a minha negritude. Mas aqui nesse momento, a realidade é essa.

Rico Dalasam com cabelo cacheado preto
Foto: Reprodução/Instagram @ricodalasam

ATH: Você está despontando no cenário musical como representante do movimento “queer rap”. Explica para gente como é o movimento.

Rico Dalasam: A natureza que diverge do corpo, a feminilidade desenvolvida no corpo masculino e as diversas possibilidades de gênero e de sexualidade são envolvidas nesse universo da música e da arte. Nesse contexto surgiu o queer rap – e é isso que nós estamos fazendo. Não existe uma cena de queer rap aqui no Brasil, mas no mundo existe e tem um grupo de artistas que possui essa temática.

ATH: Em uma de suas músicas, você canta “Outro não dá pra ser, sem crise, sem chance, uma dica: Aceite-C”. Quando e como você começou a se aceitar?

Rico Dalasam: Primeiro você começa a se rejeitar e, então, em algum momento essa balança começa a criar um equilíbrio entre se aceitar e se rejeitar. E se rejeitar é sempre uma resposta do externo. Com uns 12 anos, quando comecei a trabalhar, também comecei a buscar coisas que tinha perdido durante a infância. Nós achamos que é um período que nada acontece, mas é uma hora muito decisiva. E, a partir daí, foi só resgaste e um processo duro, em que ser negro, ser gay e ser adolescente era muito pesado. Já me senti velho, mas agora com o passar dos anos estou me sentindo mais jovem. Hoje, sinto que me rejuvenesço a cada ano.

Rico Dalasam com cabelo cacheado preto
Foto: Reprodução/Instagram @ricodalasam

ATH: Por se o único rapper gay assumido publicamente no Brasil, quais os desafios que você enfrenta diariamente?

Rico Dalasam: Atualmente,  meus desafios estão envolvidos na música independente brasileira, de veicular música, fazer turnês e shows. Mas sabemos da realidade dos homossexuais no Brasil. Somos um dos países que mais mata e, ainda, temos altos índices de morte da juventude negra e periférica. Eu estou atento a isso a todo instante. E isso reflete nas minhas músicas, quando estou no palco, na minha representação e representatividade. Mas eu tento usar minha força para mudar isso. Choro, mas já levanto.

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