Dia da Mulher: Isabelle Anchieta lança um olhar sobre identidade e feminilidade
Confira a entrevista exclusiva que All Things Hair fez com com a jornalista e socióloga Isabelle Anchieta.
Aproveitando o Dia Internacional da Mulher, o All Things Hair conversou com várias profissionais de diversas áreas afim de ampliar o espaço e o alcance dos diálogos no processo de empoderamento feminino. Dentre elas, está a jornalista e socióloga Isabelle Anchieta que desenvolveu um longo estudo sobre as imagens da mulher no ocidente moderno, que em breve se tornará um livro. Premiada pela Associação Internacional de Sociologia com apoio da Unesco, ela torna acessível seus conhecimentos e descobertas para mais de 165 mil seguidores nas redes.
Na entrevista que você confere abaixo, Isabelle aborda as configurações da identidade e feminilidade da mulher aplicadas em áreas como política, movimentos sociais, direitos humanos e pós-gênero.
All Things Hair: Como é a sua relação com a sua própria beleza?
Isabelle Anchieta: A minha relação com a beleza sempre foi ambígua, em grande medida em razão da incompatibilidade com minha vocação primeira: a Universidade. Pois, se por um lado ela é supostamente o ambiente da vanguarda e da desnaturalização dos preconceitos, por outro ela tem lá os seus próprios preconceitos. Ser bonita, vestir-se bem e, ainda por cima ser loura, não cai bem em um ambiente que preza por um pacto velado com a pobreza e de certa forma com uma antiestética.
Quando fui realizar minha defesa para entrar no doutorado na USP, me escondi, fiz um coque, coloquei óculos e uma roupa preta, para que minha imagem não impedisse que minhas ideias fossem tomadas a sério. Para minha surpresa havia entre os 5 doutores uma bela e elegante mulher, a Maria Arminda do Nascimento Arruda – a única que de fato parecia ter apostado em minha pesquisa. Uma mulher que, de certa forma, abriu caminho na USP para o salto alto. Ciente que meus desafios não parariam por aí, busquei formas de reconhecimento isentas. Enviei artigos com pseudônimos para concursos internacionais de ciências sociais e estudei com muito afinco. Li uma média de 60 livros mensais ligados a arte, filosofia e política e cheguei a estudar mais de 12 horas por dia.
Mas sempre gostei de me cuidar. E, ao contrário do que se pensa, é como se uma coisa incentivasse a outra, me oferecendo esse pequeno prazer diante dos desafios maiores. É uma paixão sem medida pelo conhecimento, entrelaçada com um profundo sentido estético da vida e do meu estar nela. Sentindo-me bem, trabalho melhor. Mas não perco demasiado tempo com isso. Sempre tive como lema ter “a beleza ao meu serviço e não eu a serviço dela”. Me policio para não me deixar encantar demasiado pelo mundo (fascinante) e sem limites do Narcisismo. Eis a beleza que posso oferecer. Não só a estética, mas sobretudo a ética. Num ponto onde as duas tendem a se encontrar.
ATH: Como é ser mulher hoje?
Isabelle Anchieta: É mais tenso. Exatamente porque as mulheres estão mais cientes de suas forças e da fragilidade dos preconceitos que as impedem de progredir e decidir. Isso leva naturalmente ao embate com pessoas mais conservadoras e mesmo com as instituições e com a lei, que sempre andam mais lentamente do que as mudanças da sociedade.
Mas esse enfrentamento é, em si, sintoma de um novo lugar da mulher. Um lugar mais incerto e mais plural. Porque a própria generalização “mulher” vai perdendo sentido. Ser mulher não é tudo que uma pessoa é. Diz muito pouco da trajetória individual. Ela só existe na forma particular que a encerra. O que deve ser levado em conta não é uma questão de gênero, mas uma questão de escolhas, esforços pessoais, capacidades individuais e etc.
Nesse sentido ser “mulher hoje” é exatamente tentar se desvincular da ideia de “ser mulher”, para ser uma pessoa com uma trajetória singular e ao mesmo tempo humana. O que chamei em minha tese de “individumano”. No sentido de que: não há nada que nos separe, mas nada que nos iguale. Por isso, sou contra categorias intermediárias que parecem solucionar o conflito. No meu entendimento a ideia do feminino presta-se mais a reforçar estereótipos, do que propriamente rompê-los. Alimenta identidades coletivas fechadas e revanchismos.
ATH: Qual é o status e importância que o Dia da Mulher tem em 2017, com todas as lutas, conquistas e também retrocessos que foram feitos até o período?
Isabelle Anchieta: Tais datas funcionam como um importante ritual cíclico de reflexão. Inclusive esta que fazemos nesse momento, nos oferecendo anualmente a oportunidade de parar para pensar sobre o quanto avançamos ou não. E, para mim, “avançar” não será propriamente levantar a bandeira do feminismo. Ainda que ela seja uma forma legítima. Mas há outras vias para chegar a resultados que podem, inclusive, serem mais eficientes.
Não se pode “odiar” o masculino, por exemplo. Caso eles não sejam chamados para a conversa não há como promover uma mudança de mentalidade. Para mim esse fechamento é um retrocesso e, se o feminismo tem como objetivo eliminar as diferenças entre homens e mulheres, elas não podem, em contrapartida, reforçar o lugar da mulher, separá-la. É uma contradição! E o pior: apenas agrava o problema.
Por isso, se o dia da mulher é ainda importante para que pensemos os conflitos que ainda não foram sanados, espero que com o tempo essa seja uma data menos importante a medida em que essa questão deixe de ser uma questão. Que simplesmente nos respeitemos em nossas individualidades para além das categorias intermediárias que supostamente nos separam (negros, brancos, homens, mulheres, ricos e pobres). Desejo, enfim, que recorramos mais a um humanismo do que ao feminismo.
ATH: Diante disso, quais são as configurações da identidade e feminilidade da mulher que você acha que merecem e devem ser revistas?
Isabelle Anchieta: Sinto que falta um equilíbrio entre dois caminhos tomados pelas mulheres na atualidade. De um lado algumas estão demasiadamente preocupadas com a beleza e apartadas do mundo político, do outro demasiadamente ideologizadas e patrulheiras morais. Falta uma síntese. Uma espécie de encontro entre a estética e a política.
Há um grupo de mulheres que perdem muito tempo com a beleza, leem coisas desnecessárias e poderiam equilibrar com o desenvolvimento da intelectualidade. Deviam seguir menos blogueiras de moda e mais comentaristas de política. É preciso estar na vida, importar-se com as questões coletivas e não só com o pequeno e superficial mundo que nos encerra no espelho. Insisto: não há mal nenhum em buscar a beleza, mas não podemos ser escravos dela. Como sempre digo “servir-se da imagem e não estar à serviço dela”.
Mas também acho muito redutor (e mesmo chato) cair no lado extremo. No patrulhamento ideológico e em um feminismo fechado em si mesmo, que tenta criar um mundo onde eliminar os homens parece resolver a questão. Movidas por ideologias historicamente datadas, tais mulheres veem em preto e branco um mundo que está em HD e não conseguem negociar com ele. Estão como em descompasso com o tempo, há um cheiro de mofo no ar. Por isso, se pudesse apontar um caminho ele seria uma síntese entre a estética e a política. De sermos não só mulheres, mas sobretudo pessoas capazes de entrelaçar a vida em comum à nossa vida singular.
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