Afro Googlers: como falar de empoderamento e cabelo crespo dentro de uma empresa de tecnologia
Christiane Silva Pinto, uma das representantes do comitê do Google, fala sobre a importância de ações como o evento Beleza Negra no Youtube para o empoderamento das mulheres negras.
Dá para criar iniciativas dentro de uma empresa que apoiem o empoderamento e a beleza negra? Com o grupo Afro Googlers, Christiane Silva Pinto, Staffing Programs Specialist do Google Brasil, mostra que sim – e muito. Ao All Things Hair, ela conta o que é e como funciona o comitê, além de falar também sobre como os canais no Youtube de moda e beleza podem ser uma porta de entrada importantíssima para as mulheres negras descobrirem sua identidade e o poder de seu cabelo cacheado e crespo, claro.
Christiane Silva Pinto, Afro Googlers e cabelo
All Things Hair: O que é o Afro Googlers?
Christiane Silva Pinto: Em empresas grandes de tecnologia, é comum existirem comitês, grupos voluntários que se juntam para se discutir um tema: são os employee resource groups. No Google, há diversos desses grupos. Por exemplo, o Gayglers aborda a causa LGBT, o Women@Google atua em prol do empoderamento feminino e o Black Googler Network defende e discute o empoderamento negro. Ele existe há mais de 10 anos em várias sedes do Google, como Londres (Inglaterra), Dublin (Irlanda), Mountain View (EUA)… No Brasil, esse grupo passou a se chamar Afro Googlers em 2014 para facilitar a pronúncia e também a comunicação entre os membros.
ATH: Como ele funciona?
Christiane Silva Pinto: Há três pilares: conscientização, engajamento e recrutamento. Na conscientização, existe um trabalho interno, que aborda a questão do racismo, do genocídio e da representatividade. No engajamento, o trabalho é feito com a comunidade negra fora do Google desenvolvida a partir da demanda de cada uma. No recrutamento, o objetivo é aumentar o número de negros por meio da capacitação e de treinamentos, por exemplo, de Google Adwords, carreira e de Youtube, como aconteceu há pouco tempo na ONG Gerando Falcões (Poá, São Paulo).
ATH: O evento Beleza Negra no Youtube também foi uma ação interessante. Como foi essa ideia?
Christiane Silva Pinto: O objetivo era criar um engajamento externo que unisse a comunidade negra e o Youtube, dando espaço principalmente para quem está começando a fim de que elas tenham mais voz, capacitação e consigam, assim, melhorar a qualidade e aumentar o engajamento dos canais. Convidamos todos os canais de moda e beleza negra. Eles são muito importantes para quem cresceu acreditando que não era bonita, que tem traços feios. Foi uma responsabilidade para com o público negro.
ATH: Como você enxerga a relação da beleza, do empoderamento negro feminino e, mais especificamente, do cabelo?
Christiane Silva Pinto: Muitas meninas negras crescem acreditando que seu cabelo é feio e luta desde criança contra um “cabelo fora do padrão”. Muitas não aguentam o processo de alisamento, o cabelo cai… É uma automutilação para entrar nos padrões. Quem tem cabelo comprido muitas vezes está sempre com ele preso, com tiara ou trança. Enquanto você não gosta do seu cabelo, você não consegue se empoderar até mesmo com outras pessoas e questões. Por isso, os canais de moda e beleza negra no Youtube são muitas vezes uma porta de entrada para muitas mulheres negras. Elas começam a questionar os padrões que foram impostos a elas e abrem os olhos para outros temas. A sensação de inferioridade desaparece e um novo mundo se abre.
ATH: Como é a sua relação com seu cabelo? Você sempre teve orgulho do seus cachos ou alguma vez já teve vontade ou foi pressionada a mudar?
Christiane Silva Pinto: Sou uma exceção porque nunca alisei, mas não gostava do meu cabelo. Ele estava sempre preso a vida toda, com gel na raiz, esticado ao máximo para fazer um rabo de cavalo ou coque. Com 14, 15 anos, uma amiga minha de cabelo liso cortou bem curtinho e fiz o mesmo. Conforme ele foi crescendo fui entendendo que cortes davam certo. O reto, por exemplo, deixava armado, o que não era uma boa opção, assim como cortar o cabelo molhado. Era mais difícil, porque não havia referências na TV nem nas revistas. Não sabia como meu cabelo poderia ficar. Até que com 17 anos comecei a ouvir elogios de como meu cabelo era bonito e fui ganhando confiança.
ATH: Quais as suas principais dicas para cuidar dele?
Christiane Silva Pinto: O primeiro é o corte seco, já que o cacho encolhe quando molhado. Prefira também cortes mais repicados, pois o corte reto deixa o cabelo armado, com efeito pirâmide. Penteie o cabelo molhado no banho para evitar a quebra dos fios. A hidratação com óleos e máscaras é muito importante, já que a oleosidade não chega até as pontas. Para evitar o frizz, seque os fios com uma camiseta e durma com uma touca de cetim. Por último, recomendo a fitagem para você finalizar o cabelo como quiser, mais ou menos armado. Aprendi esse processo no Youtube, já que não o via em nenhum outro lugar!
ATH: Qual seria seu conselho para garotas que desejam assumir os cachos?
Christiane Silva Pinto: Não acredite na ditadura da beleza, mude por você e não pela sociedade. Se apostar na transição capilar ou no big chop, tenha paciência: pode ser que você não goste logo de cara, mas depois vai entender como cuidar dos fios e descobrir os penteados certos. E o mais importante: não ligue para a opinião dos outros.
Sugestão de produtos All Things Hair:
Hoje já existem produtos específicos para cabelos cacheados e crespos ficarem ainda mais incríveis. Aposte, por exemplo, Shampoo TRESemmé Selagem Capilar Crespo Original e Condicionador TRESemmé Selagem Capilar Crespo Original, que ajudam a combater o ressecamento, e para sua hidratação semanal, vá de Creme de Tratamento Seda Keraforce Original, enriquecido com queratina e óleo de argan.