Cabelo importa: “Nunca achei que fosse possível viver do mundo da beleza”

Entrar no mercado de trabalho pode ser muito natural para boa parte da população, mas não é simples assim para as pessoas LGBTQIAP+. Ainda alvo de muito preconceito, essas pessoas muitas vezes encontram dificuldades na sua trajetória profissional até conseguirem um trabalho digno e no qual possam mostrar todo seu potencial.

Algumas instituições voltadas para esse público, oferecem cursos gratuitos para capacitar profissionalmente e inserir essas pessoas, principalmente em situação de vulnerabilidade, no mercado de trabalho.

É o caso da Beatriz Porto, de 19 anos, que conseguiu ir atrás da sua independência financeira depois de fazer um curso de auxiliar de cabeleireiro na Casa 1. Ela conta um pouquinho da sua história, desde quando se descobriu LGBTQIAP+ até como o curso abriu oportunidades para ela.

Quem é a Bea?

“Sou uma artista da zona norte, Brasilândia, periferia de São Paulo. Desde os 7 anos eu já sabia que gostava também de meninas, mas não entendia muito bem o que era isso, então durante muitos anos da minha vida essa parte foi “esquecida”, mas aos 13 anos eu entrei no teatro e assim consegui me expressar verdadeiramente e mostrar os meus gostos e vontades.

Acho que isso nunca foi um tabu pra minha família porque grande parte dela faz parte da comunidade LGBTQIAP+, mas claro que havia um receio em ter que “comunicar” isso a eles, então eu fui inserindo aos poucos e acabou com uma recepção bem tranquila. E isso me ajudou na minha descoberta em quanto pessoa LGBTQIAP+ e também como uma mulher preta que vem da periferia.

A beleza como ferramenta para o mercado de trabalho

Minha vida artística começou no teatro aos 13 anos e lá, de alguma forma me, inseri no mundo da beleza, sem nem saber como era e funcionava. Na maioria das vezes eram coletivos independentes, nós mesmos que precisávamos fazer o nosso próprio cabelo e maquiagem e dessa forma eu auxiliava os meus colegas também.

Foi só em 2022 que eu entrei na área realmente. Comecei a fazer o curso de auxiliar de cabeleireiro da Casa 1, que é um centro de cultura e acolhimento para pessoas LGBTQIAP+.

Sempre amei o mundo da beleza, é uma das expressões artísticas que mais me encanta, mas eu não conhecia o curso, mas foi umas das coisas mais incríveis que aconteceu comigo. Não dominava tanto os cabelos e foi um aprendizado quase que do zero pra mim, então foi simplesmente incrível, além do clima das aulas ser sempre muito divertido e descontraído, o que tornou todo o processo mais fácil

Logo após o curso, comecei a fazer assistências de beleza para a Virgínia Barbosa e Belkis Goulart, que foram as minhas professoras no curso e também as pessoas que mais me incentivaram e me proporcionaram oportunidades incríveis. Eu ainda tenho um caminho grande a percorrer, mas nunca esquecerei o que elas fizeram por mim.

Pude trabalhar com marcas bem legais e também trabalhei algumas vezes também no Cab, que é um salão incrível no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Essas foram algumas experiência que eu tive para além de projetos independentes.

O curso abriu a minha mente de uma forma que eu não esperava, em relação ao mercado e de como trabalhar, eu não sabia que o mercado da beleza era tão grande e que existia diversas possibilidades, eu nunca achei que fosse possível viver do mundo da beleza, e quando eu comecei a realmente trabalhar com isso foi quando eu entendi que era mais que possível. E isso mudou minha perspectiva de vida e sei que estou construindo uma linda trajetória”.

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