Beleza vegana e sustentável: como o movimento está revolucionando a indústria
Na era do consumo consciente, os produtos de beleza eco-friendly conquistam cada vez mais espaço no nécessaire. Mas o que nos fez chegar até aqui? E para onde vamos? Essas são as reflexões que a gente propõe nesta matéria :)
Nos últimos anos, temas como “veganismo” e “sustentabilidade” se tornaram cada vez mais frequentes nas rodas de conversa – e pode incluir aí os produtos de beleza que incorporam o conceito, viu? Antes encarada como nicho, a indústria de cosméticos veganos (que não levam ingredientes de origem animal na fórmula nem são testados em animais) e sustentáveis tem crescido e muito: segundo relatório disponibilizado pela consultora Grand View Research, a estimativa é de que o mercado cosmético vegano global fature 20,8 bilhões de dólares até 2025. Vamos conversar sobre esse boom que está influenciando nosso estilo de vida e nossa rotina de beleza?
Cosméticos veganos e sustentáveis: a transição para o consumo consciente
Para Renata Kalil, jornalista expert em beleza vegana e professora do curso “Beleza Vegana: o novo mercado, a revolução das marcas” na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) esse processo se dá porque, em primeiro lugar, temos, mais do que nunca, acesso à informação. A internet, afinal, é uma fonte inesgotável de conteúdos que são porta de entrada para novos aprendizados que podem influenciar diretamente no nosso jeito de consumir. Mas fica a pergunta abaixo:
Quem são e o que move esses novos consumidores?
Bastante exigentes na escolha dos produtos de beleza, eles se preocupam com o pacote completo: “Pensam em tudo, tanto no que é melhor para o planeta quanto para as pessoas. Logo, levam em consideração se os produtos têm a fórmula limpa, se os ingredientes não são de origem animal ou testados em animais, e até como as embalagens são feitas”, afirma o guru vegano Ken Spector, que, além de estar na direção do Happy Cow, o maior guia de restaurantes veganos e vegetarianos do mundo, também atua em projetos na indústria de beleza.
A dermatologista Luiza Archer, especialista em dermatologia natural, endossa: a médica percebeu uma demanda crescente de pacientes e seguidores em seu perfil no Instagram interessados em consumir cosméticos veganos e sustentáveis pela questão ambiental, além dos impactos na saúde à longo prazo. “As pessoas estão cada vez mais questionando se os ingredientes usados nas fórmulas podem ser prejudiciais de alguma forma. Com o uso de cosméticos veganos e sustentáveis, elas se sentem mais seguras, sem correr riscos”, comenta.
Além disso, é inegável que vivemos na era do consumo com propósito. Por muito tempo, estivemos cercados de excessos – quem aí lembra da rotina de skincare coreana, com 10 passos para cuidar da pele? –, e o movimento hoje caminha para o lado oposto: mais do que nunca, os consumidores querem que seus valores pessoais estejam alinhados com os produtos e marcas que colocam no nécessaire.
“As pessoas estão em busca de uma dose de equilíbrio diante do mundo acelerado que ainda vivemos. Elas querem se reconectar com a natureza e, com isso, procuram uma rotina mais prática e simples, que respeite os animais e o meio ambiente”, completa Luiza Archer.
Veganismo na alimentação x rotina de beleza vegana
Optar por produtos veganos, sejam eles cosméticos ou alimentos, é uma maneira de diminuir nossas pegadas no meio ambiente. “Mas tenho observado que é muito mais fácil para as pessoas começarem essa transição para o veganismo pelos produtos de beleza, que não envolvem tantas questões culturais”, avalia Renata Kalil.
No consultório de dermatologia, por exemplo, a Dra. Luiza atende algumas pacientes que não conseguiram parar de comer carne, mas que fazem questão de usar cosméticos que não sejam testados em animais ou contenham ingredientes de origem animal na fórmula. Esse pode ser um bom começo, além de ser uma pequena atitude que pode fazer bastante diferença, não é mesmo?
Como fazer escolhas conscientes
A principal dica é sempre ler os rótulos dos produtos e buscar selos que atestem as características que você procura. Se você quer comprar cosméticos veganos e que não são atestados em animais, por exemplo, verifique se as embalagens contêm os selos “vegan”, certificados por instituições sérias como Vegan Action, e “cruelty-free”, emitido pelo PETA, por exemplo.
Também é sempre importante manter-se muito bem informado(a) sobre as iniciativas das empresas em prol do meio ambiente. A Love Beauty and Planet, por exemplo, é uma marca de produtos para cabelos que, além de ser vegana, cruelty-free e ter frascos feitos com plástico PET 100% reciclados e recicláveis, assina outros compromissos com a questão ambiental, como auxiliar também as suas consumidoras a darem um novo destino aos plásticos, seja pela coleta seletiva, refilagem ou reuso criativo.
Outra atitude sustentável da marca diz respeito à forma de se obter os ingredientes. “Os trabalhadores responsáveis pela coleta de murumuru (ativo proveniente da Amazônia, usado na linha Curls Intensify), para citar um exemplo, coletam as sementes diretamente do chão da floresta, sem prejudicar a biodiversidade local. Com esse trabalho, eles garantem a fonte de renda de suas famílias. O resultado é que toda a região onde o murumuru cresce se torna economicamente viável, o que ajuda na proteção contra o desmatamento”, explica Wagner Azambuja, coordenador de marketing técnico da Unilever. Conheça outras ações no site da Love Beauty and Planet.
O futuro da beleza
A beleza ética, transparente e sustentável se torna cada vez mais presente em nossas rotinas. Mas o que esperar desse movimento para os próximos anos? Bem, segundo um relatório da WSGN (uma das líderes mundiais em previsão de tendências) com tendências para 2021, serão valorizados ainda mais a funcionalidade, alto desempenho e resultado dos cosméticos, e não apenas sua estética.
O ideal de “compre menos e melhor” também deve tornar-se um dos principais mantras de consumo à medida que fazemos escolhas melhores e priorizamos a qualidade à quantidade. Ainda de acordo com a pesquisa, lançamentos de produtos versáteis e multifuncionais também estão no radar, assim como a ideia de estender sua vida útil com opções que podem ser reutilizadas, revertidas ou reaproveitadas para reduzir o desperdício.
Para Renata Kalil, a tendência dessa nova década é que falemos cada vez mais em regeneração. “A ideia é que nos dediquemos às práticas de regeneração: resgate de recursos naturais, uso de biotecnologia para poupar matérias-primas finitas, regeneração do solo… É como um chamado para olhar para o nosso rastro e irmos além de ‘começar a fazer certo hoje’”, opina.
A expert também acredita que o conceito de wellness deve influenciar os hábitos de consumo do futuro – o que já acontece hoje e tende a se perpetuar. “Isso provoca uma ruptura na ideia de que, ‘para ser bonita, tem que sofrer’, que norteou o universo da beleza por muito tempo. Com esse boom, começamos a pensar que não deve haver dicotomia entre estar bonita e se sentir bem. Pelo contrário”, finaliza. Falou e disse, Renata!