Desafios da transição capilar: a história de um cabelo tipo 4C | All Things Hair BR
Modelo de Desafios da transição capilar

Desafios da transição capilar: a história de um cabelo tipo 4C

Falar sobre cabelo sempre foi um assunto delicado para nossa editora Tamires Crispim. Leia o depoimento dela sobre a própria transição capilar que foi (e ainda é) um desafio e tanto!

“Passar pela transição capilar é fácil e todo mundo ama o resultado”, você pode pensar. Infelizmente, não é simples assim! Pouca gente fala sobre os desafios da transição capilar e, pode acreditar, eles existem. Fui criada para odiar cada milímetro do meu cabelo crespo tipo 4C e passar pela transição é uma verdadeira desconstrução de vários conceitos carimbados dentro de mim. Para tentar explicar como me sinto em relação ao assunto, vou contar, brevemente, a minha história capilar.

Desafios da transição capilar: falar sobre cabelo sempre foi delicado 

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Entrei na transição usando tranças box braids.

Muitas memórias da minha infância estão relacionadas ao cabelo. E elas não são tão legais. Cresci ouvindo que tinha um cabelo feio e ruim, e não era incomum alguém me dizer que, se um dia eu me casasse, teria que escolher um cara do cabelo liso para a minha futura filha não sofrer, e coisas do tipo. Era meio que determinado: “se nascer menino do cabelo crespo, tem que ser raspar. Se for menina, alisa que volume e cabelo não definido não pega bem”.

Esse motivo me fez percorrer vários salões de beleza ainda muito nova com a minha mãe. Não era tarefa fácil ter cabelo crespo em pleno início dos anos 90, nem para mim e nem para ela. No começo, a ideia era buscar definir os meus cachos. Quando saía do salão era só alegria, cachos no lugar, cabelo bonito. Mas o efeito não durava muito tempo: lá ia eu, sendo levada para outro cabeleireiro testar os seus produtos no meu cabelinho.

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Um dos poucos momentos com o meu cabelo natural na infância, aos 7 anos.

Depois de muitas tentativas, minha mãe decidiu que eu usaria tranças, as hoje conhecidas box braids. Lembro que amei o resultado: não dava trabalho, eu já acordava pronta para ir para a escola e tinha que ouvir bem menos piadinhas.

Ver meninas com cabelos considerados normais reclamando de volume, frizz ou pontas duplas me deixava bem chateada. Eu olhava para o cabelo delas e tudo o que via era alguém com um cabelo lindo reclamando “sem motivo”. Afinal, elas nunca precisaram passar pelo sofrimento psicológico que sempre fui obrigada a passar.

No início da adolescência, foi que realmente senti a contribuição do meu cabelo na baixa autoestimaVirei refém do alisamento químico, da escova e da prancha. Não achava aquele cabelo bonito e sabia que as outras pessoas também não, mas era o mais próximo que eu conseguia chegar do tipo de visual que elas esperavam que eu tivesse.

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Refém da chapinha, na adolescência.

Depois de anos, eu me cansei. Queria algo diferente e não queria mais usar o meu próprio cabelo. Por volta dos 16 anos, comecei a alongar os fios e os primeiros cabelos escolhidos eram lisos, claro. A minha autoestima mudou e me senti um pouco mais feliz com o meu visual. Já na faculdade, arrisquei colocar um cabelo cacheado: foi sucesso certo, muitos elogios. Mas ainda tinha um problema: aquele cabelo era cacheado e ainda bem distante do meu tipo natural. Não havia a menor chance de assumir os fios crespos. Eu fui me virando e a vida seguindo seu curso.

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Transitando para o alongamento cacheado.

Um novo capítulo

A minha história capilar mudou de rumo com a ajuda da internet, há pouco mais de um ano. Comecei a acompanhar perfis de meninas que assumiram os fios naturais ou usavam técnicas afro, como as box braids e entrelaçamento para cuidar dos fios durante a transição capilar, que até então era uma possibilidade inviável para mim.

Naquele momento percebi que durante a vida toda me faltou inspiração e representatividade, afinal, não conhecia ninguém que tivesse o cabelo crespo por opção, todo mundo alisava os fios tentando domar o “cabelo rebelde”. Foi aí que me deu um estalo: “por que não tentar também? Por que não deixar o meu cabelinho tipo 4C crescer a ver no que vai dar?” E foi o que decidi fazer.

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O que virá? Eu não sei!

Eu sigo um dilema, pois o crespo ainda não é considerado bonito, a bola da vez é o cabelo cacheado. Mas a partir de agora quero fazer o que eu considerar melhor para mim: estou deixando os meus fios crescerem livres de química, leves e volumosos, enquanto experimento novos visuais. Já realizei o big chop, mas não mostrei o meu cabelo 4C para o mundo. Ainda!

Nesse período, uma das minhas maiores diversões está sendo mudar de visual a cada 3 meses, daí sempre pesquinho referências no Pinterest para escolher qual será o novo tipo de cabelo que terei. Até quando vou ficar nessa brincadeira? Eu não sei!

Pode ser que dentro de pouco tempo eu apareça com um black power, com o cabelo relaxado ou até mesmo com ele liso, por que não?! Mas só pelo fato de ter descoberto as possibilidades que o meu cabelo natural me dá e não mais ser escrava na escova e chapinha que eu tanto odiava, já valeu a pena.

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Uma das minhas maiores diversões está sendo mudar de visual.

Acho que a maior recompensa da chamada transição capilar é você aprender a se ver com outros olhos, desconstruir os preconceitos que te foram impostos. Perceber que legal mesmo é você se achar bonita porque gosta do que está vendo, não porque você está seguindo regras que, para você, não fazem o menor sentido.

Por esse motivo, acho que a transição é muito mais do que mostrar o cabelo natural para o mundo. Esse ato exige uma transição, ou melhor, transformação interna. E essa, garanto, é a mais legal.

Espero voltar aqui em breve para mostrar um novo capítulo dessa saga capilar cheia de descobertas que está apenas começando. E, se você deseja passar por ela, não pense duas vezes, porque apesar dos desafios da transição capilar, a recompensa é gigantesca!

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Meu visual mais recente.

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