
Por um Fio: Ashilley Prado conta como é ser uma passista transgênero no Carnaval!
Natural do Rio Grande do Norte, Ashilley Prado é apaixonada pela dança, que a levou a se transformar em passista de escola de samba.
O Carnaval é uma festa do povo em que todo mundo deveria se sentir acolhido e livre para celebrar. E foi justamente nessa festa que a bailarina Ashilley Prado encontrou esse espaço de acolhimento.
A dançarina é passista da Escola de Samba Mocidade Alegre, de São Paulo, e usa a arte do bate-cabelo, criada por drag queens, para se diferenciar na passarela do samba.
Na nossa conversa, ela conta um pouquinho da sua história com a dança, com o Carnaval e como é ser uma mulher transgênero nesse espaço.
A história de Ashilley Prado com o Carnaval e muito mais
A paixão pela dança começou cedo, mas na época a bailarina não tinha condições de bancar aulas para aprimorar o que era um hobby. Hoje ela faz aulas e se esforça para que um dia consiga viver só da dança.
Veja, abaixo, a entrevista completa.
Tudo Pra Cabelo: Quando começou a sua paixão pela dança?
Ashilley Prado: Minha paixão pela dança começou ainda criança, vendo o grupo É O Tchan na TV. Sempre pensava: será que um dia eu vou dançar ali como eles? Como eu sou de uma família super humilde, comecei nas aulas de dança em 2017 quando tive mais recursos financeiros para poder aprimorar o que mais amo fazer.

TPC: Como é ser uma bailarina transexual?
AP: Ser uma bailarina transexual infelizmente é muito difícil pois em muitos trabalhos que aparecem como seleções que pedem, por exemplo, por 10 homens e 10 mulheres, nunca nos encaixamos, por não sermos consideradas mulheres. Só quando o trabalho é específico para pessoas trans. Acho que nos consideram um terceiro sexo!
Brincadeiras à parte, mesmo com tudo o que infelizmente ainda acontece nos tempos de hoje, tive a honra e a oportunidade de ser a primeira bailarina transexual a fazer parte do ballet do Programa Silvio Santos.
Mas ainda não consigo viver 100% da dança, então trabalho com diversas coisas como maquiadora, cabeleireira, performer e hostess.
TPC: Quais foram e são as dificuldades pelo caminho?
AP: A dificuldade sempre será a aceitação pela forma que você se identifica. Infelizmente, algumas pessoas te tratam pelo gênero masculino só por saberem que você é uma mulher transexual.
TPC: Como aconteceu o encontro com o Carnaval e como você virou passista de escola de samba?
AP: Um dos meus professores de dança fazia parte da comissão de frente de uma escola de samba, eu trabalhava em eventos como performer e naquele momento não estavam aparecendo tantos trabalhos.
Ele me falou sobre um teste na ala de passistas, fui lá e fiz o teste, peguei 3 coreografias e depois tive que sambar na frente de vários nomes fortes do Carnaval
Acho que passei pela dança porque o samba não era o meu forte. Daí em diante comecei a fazer aulas de samba também e a paixão pelo Carnaval foi crescendo cada vez mais.
TPC: Você sempre gostou de Carnaval?
AP: Eu nasci em Natal, no Rio Grande do Norte. Lá o Carnaval é micareta, com trios elétricos, e sempre gostei muito dessa época do ano. Já aqui em São Paulo deixei de ser aquela pessoa que acompanhava as escolas de samba pela TV e fui fazer parte de um dos maiores evento do Brasil.
TPC: Qual é a sua história com a festa?
AP: Minha história com o Carnaval é muito louca porque antes da minha transição eu dançava em bandas de axé e, às vezes, assistindo ao Musas do Caldeirão (quadro do programa Caldeirão do Huck, exibido na rede Globo), sempre tinham as passistas que mais se destacavam e eu ficava babando nelas.
Dizia que seria uma delas. Até que o tempo passou e hoje realmente sou como elas. Sou mulher, sou passista e sou sambista!
TPC: O que você mais ama em ser passista de escola de samba?
AP: Primeiro de tudo, é claro, poder me expressar com meu corpo da forma que eu me sinto melhor. Entrei em julho de 2019 como passista na Escola de Samba Mocidade Alegre e lá tenho espaço para levar um pouco da minha essência, que é o bate-cabelo.
Essa é uma arte criada por drag queens brasileiras que eu levo para algumas coreografias de shows que fazemos nos eventos em outras escolas de samba.
TPC: Você sente que esse é um ambiente acolhedor?
AP: Me sinto em casa! A escola está apta para qualquer tipo de público e posso afirmar que sou bem tratada desde a ala das crianças até mesmo a nossa velha guarda, que faz parte do começo da história do nosso pavilhão.
TPC: Qual a importância em ocupar não só esse, mas outros espaços como mulher transgênero?
AP: É gigantesca, muitas de nós somos descartadas pelo fato de existirmos, pois não podemos esquecer que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais.
Já pensou você ser o exemplo de inspiração para outras pessoas iguais a você? Você está ali abrindo portas para outras meninas conquistarem o espaço que desejam em todas as áreas e profissões possíveis.
TPC: Qual o significado do seu cabelo na construção da sua autoestima e como bailarina?
AP: Meu cabelo é a minha marca, já tive inúmeros estilos e diversas cores! Às vezes loira, ruiva, morena, colorida, longo ou curto e às vezes girando nas batidas das músicas. E sempre com um visual marcante porque o cabelo, sim, é a verdadeira maquiagem da mulher.