Cabelo importa: como “mito do cabelo asiático” reforça preconceitos e estereótipos dentro da cultura coreana
Cabelo oriental cacheado? Sim, existe! E a criadora de conteúdo, Natalia Lee, conta como foi o processo de aceitação e redescoberta dos fios naturais.
Se você esteve conectado em redes sociais como Instagram e TikTok nos últimos anos, é bem provável que você tenha sido impactado pela ascensão da cultura sul-coreana aqui no ocidente com a popularização do k-pop e k-dramas.
O problema é que essa grande visibilidade pode reforçar estereótipos, que sempre estiveram presentes na comunidade, como o “mito do cabelo asiático”, a ideia de que o cabelo de todos os asiáticos são iguais — super lisos e bem escuros.
Essa crença pode ser bem preconceituosa, ao menos é o que conta a criadora de conteúdo, Natalia Lee — em coreano 이지혜 (Ji Hae). Filha de sul-coreanos, a brasileira de 27 anos, nasceu com os fios naturalmente ondulados/cacheados e passou por muita pressão social por causa do cabelo.
“O meu cabelo sempre foi um ponto de insegurança e que colocava em xeque a minha ascendência”
“Passei por várias situações constrangedoras por não ter o cabelo liso que vão desde a minha mãe ter tomado um tapa por terem achado que ela tinha feito permanente no meu cabelo quando era criança, até me chamarem de mentirosa na internet porque ‘é impossível existirem coreanos de cabelo com curvatura'”, explica.
Devido a sensação de falta de pertencimento, por causa da textura dos fios, Natalia passou por um longo período de alisamentos, antes de decidir passar pela transição capilar e voltar aos cachos.
“Dos 10 aos 25 anos de idade eu fiz procedimentos de alisamento por não aceitar meu cabelo. Foi então que em 2020 eu comecei a minha transição capilar e decidi compartilhar a minha jornada nas redes sociais para me encorajar e incentivar outras pessoas que estivessem passando pelo mesmo processo.”
O que deu super certo, já que seu vídeo sobre “o mito do cabelo asiático” no TikTok já soma mais de 80k de curtidas.
A criadora de conteúdo explica que o conceito de que todo cabelo asiático é igual sempre causou muito desconforto, porque anulava a individualidade dela e de tantas outras pessoas.
“Foi só na transição capilar que eu comecei a me questionar quais eram os motivos de tudo isso acontecer, e conclui que eu estava sendo refém de um estereótipo do senso comum de que ‘todo asiático tem o cabelo liso e preto’ muito baseado naquilo que a gente escuta desde que nasceu que ‘todo asiático é igual’
Afinal, por que nem todo cabelo asiático é igual?
Diferente do que se acredita popularmente, a textura do cabelo está mais ligada à genética e fatores do corpo da pessoa do que à nacionalidade. É o que diz Dra. Fernanda Nichelle — médica, pós-graduada em dermatologia estética avançada.
“A textura dos cabelos pode ser determinada geneticamente, mas também por vários outros fatores, como hormônios, puberdade, gravidez, menopausa, uso de medicamentos e agressões químicas. Várias são as variáveis para determinar a textura de um cabelo”, explica.
Sendo assim, apesar de conhecidos por serem lisos e espessos — por causa do maior número de células na cutículas capilares — não existe uma regra absoluta para determinar a textura dos fios asiáticos.
A relação da mídia com os estereótipos ligados aos cabelos asiáticos
Cada vez mais presentes nas plataformas de streamings de vídeo e música, os artistas coreanos refletem bem como funciona a visão da mídia com relação aos cabelos asiáticos não lisos.
Para Natalia, é inevitável que a mídia tenha influência na forma em como nos enxergamos e por muito tempo normalizamos como os cabelos não-lisos eram retratados.
Isso porque a representação negativa do cabelo não-liso sempre existiu. Seja em filmes mundialmente famosos, como em “O Diário da Princesa”, que a protagonista precisou alisar o cabelo para ser vista pelos outros, ou em doramas que tendem a ondular ou cachear personagens que tem alguma característica negativa em evidência.
Olhando para trás, eu vejo que a mídia, os comentários e olhares do dia a dia, ensinaram a Natalia criança que o cabelo natural dela não era bonito e que ela só seria aceita quando alisasse ele.
Essa visão pejorativa sobre os cabelos que não sejam lisos naturalmente fica evidente até em alguns termos usados no coreano.
“O que explica muito bem o motivo para que o cabelo natural seja menos aceito do que o permanente para a comunidade, é o termo악성곱슬 (agseong-gobseul), que tentando traduzir para o português significa “cachos malignos”, demonstrando que essa percepção negativa está super enraizada culturalmente”, conta Natalia.
Essa ideia de “cachos malignos”, já foi utilizada no oriente para vender chapinhas, alisamentos químicos ou permanente.
Permanente X Cachos naturais: qual é a diferença?
Se cachos não são bem aceitos, por que o permanente é procedimento tão procurado pela comunidade asiática? Parece contraditório que exista tanta procura por um processo que cacheia e ondula os fios, mas a explicação também está ligada à mídia e à ideia de “cachos malignos”.
“A alta procura pelas permanentes é muito influenciada pelos doramas e cantores de k-pop que utilizam esse procedimento para texturizar os fios de forma estratégica e com a finalidade de emoldurar o rosto” explica a criadora de conteúdo.
Apesar do resultado ser um cabelo ondulado, cacheado ou crespo, o permanente não tem as mesmas características e demandas de um cabelo naturalmente com curvatura.
Dessa forma, o permanente traz a ideia de “cachos perfeitos”, todos alinhados de forma que não fique parecido com o natural — aqui no Brasil também existe essa cultura de que “cabelo bom, é cabelo controlado”, o que também é conhecido por ditadura dos cachos.
Se comparado com um cabelo não-liso natural, o permanente tem diferenças notáveis, como:
- O permanente traz uma textura uniformizada enquanto o cabelo natural tem várias curvaturas;
- Demanda menos técnicas de finalização, uma vez que o cabelo já está moldado;
- Danifica os fios e precisa de mais atenção na recuperação deles.
Principais cuidados para recuperar os cabelos asiáticos
Para quem está em processo de redescoberta do cabelo natural, seja após progressiva, uso constante de ferramentas de calor ou outros tipos de químicas, o ideal é caprichar no cronograma capilar.
De acordo com a Dra. Fernanda, o uso constante de procedimentos agressivos que alteram a textura do fios pode danificar bastante a estrutura capilar.
“Sabe-se que agressões químicas e térmicas tendem a alterar a textura dos fios e muitas vezes culminar com a fragilidade e consequente quebra dos mesmos, explica.
Mas saiba que é possível, sim, restaurar a saúde dos fios! Ela completa reforçando que com ajuda médica e com produtos adequados pode-se acelerar esta recuperação.
“A área de tricologia na medicina evoluiu muito e hoje permite que essa transição seja mais rápida e tranquila”.
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